domingo, 18 de maio de 2008

Ansiedade é responsável por 70% dos casos de enxaqueca

Maurílio Mendonça
mgomes@redegazeta.com.br


Quem sente dor de cabeça sabe: é só o problema começar que acabam o bom humor e a vontade de fazer qualquer outra coisa. Mas não adianta ficar estressado, pois a ansiedade é a responsável por 70% dos casos de enxaqueca. Isso sem contar com a cefaléia tensional, que, como o próprio nome já diz, é causada pela alteração no estado emocional.

A OMS relata que 46% da população terá uma crise de cefaléia tensional; e 14%, de enxaqueca, salienta o médico neurologista Marcelo Muniz, professor da Emescam.

Ele explica que as dores de cabeça relacionadas à cefaléia tensional são de menor duração, podem acontecer uma vez por dia e surgem no fim da tarde ou à noite, quando a pessoa começa a relaxar. Já as crise de enxaqueca chegam a durar de quatro horas a três dias inteiros, mas acontecem normalmente uma vez por mês. “Com exceção dos casos crônicos”, frisou.


Chances


O mais preocupante é que dois terços da população terão, de forma inevitável, uma dor de cabeça durante toda a sua vida. A afirmação é da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A cefaléia pode ser motivada por qualquer fator. Não adianta achar que a dor veio porque você não comeu direito ou exagerou no prato, ou porque você ficou o dia todo em frente à televisão ou diante do computador.

Essas questões não desencadeiam a dor, mas aumentam a chance do surgimento dela. “A medicina ainda não sabe o responsável da cefaléia tensional nem o causador da enxaqueca. Só se sabe que determinadas ações ou certos alimentos intensificam a dor”, explica o neurologista Marcelo Muniz.

Para o tratamento: remédios receitados somente pelo médico. Em alguns casos de enxaqueca, doses pequenas de antidepressivos ou anticonvulsivos são os mais indicados. Mas se o “gatilho” das dores estiver ligado à ansiedade, aconselham-se momentos de lazer, como esportes, além de acupuntura e ioga.


Mulheres sofrem mais de enxaqueca


A cada dez mulheres, duas sofrerão de enxaqueca. Já entre os homens, o caso acontece apenas em um a cada 20. A diferença já foi comprovada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e o responsável por essa diferença seria o estrogênio, hormônio em excesso nas mulheres. “Só foi descoberto que esse hormônio desencadeia a enxaqueca e aumenta as crises. Mas não podemos afirmar que ele seja o responsável por elas. O gatilho, o desencadeador de tudo, ainda não sabemos“, explica o neurologista Marcelo Muniz. Segundo ele, as mulheres são maioria sempre quando se fala de dor de cabeça, seja qual for.


Alimentação pode ajudar ou piorar os sintomas


Café: Ideal para reduzir as dores de cabeça. A cafeína está presente nos analgésicos. O chá verde e o chocolate amargo também podem ajudar. Mas o excesso de cafeína pode piorar as dores.

Gordura: Esqueça aqueles alimentos pesados, gordurosos, que levam dias para ser digeridos. Eles podem piorar as dores. Carne vermelha também entra na lista.

Fome: Ficar muitas horas sem comer também é um problema. A hipoglicemia pode aumentar a intensidade da dor de cabeça e, em raríssimos casos, desencadeá-la. O ideal é se alimentar de três em três horas, em pequenas porções.

Álcool: Bebidas alcoólicas também desencadeiam ou intensificam as dores de cabeça.

Leite: Quem sofre de intolerância à lactose, quando consome alguma bebida ou alimento que contenha leite, também pode sofrer de dores de cabeça. Vá a um médico caso isso aconteçaConservantes: Tudo qualquer tipo de alimento com conservante ou corante pode intensificar as dores. Há casos até de intoxicação por conta de alimentos ricos em produtos químicos.

Açúcares: Doces em gerais devem ser evitados, principalmente em grande quantidade, durante as crises. A situação pode piorar, e muito.


Quem sofre


30 milhões Essa é a quantidade de brasileiros que sofrem com algum tipo de dor de cabeça, segundo dados da Academia Brasileira de Neurologia.

66% da população Mundial vai ter, pelo menos, uma dor de cabeça na vida, revelam os dados repassados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Café pode ser mocinho e vilão Um cafezinho pode ser mais saudável do que muita gente imagina. Mesmo não sendo indicado pela maioria dos neurologistas, o café pode reduzir as dores de cabeça, já que a cafeína é encontrada em muitos analgésicos usados para controlar as crises.“Já ouvi relatos de pacientes que ao tomarem o café têm as dores reduzidas. Acho normal, visto que muitos medicamentos são feitos de cafeína. Mas, também, não vale a pena se entupir de café. Se já tomou o remédio, não ingira a bebida. Nada em excesso faz bem” , alerta o neurologista Marcelo Muniz.

O excesso da cafeína também pode fazer mal. “Ela, em excesso, contrai os vasos sanguíneos, o que pode aumentar, ainda mais, as dores de cabeça”, afirma a nutricionista Roberta Larica.

Ela aponta, ainda, além do café, outros alimentos e bebidas que podem ajudar a reduzir os sintomas da cefaléia. “O chá verde e o chocolate são ricos em cafeína, também. Mas opte pelo chocolate amargo. Ele tem menos gordura e açúcar”, explica.

O doce e alimentos gordurosos em excesso, segundo ela, também intensificam as dores. E o que era para ser saudável, torna-se prejudicial.


Até analgésico demais faz mal


Atire a primeira pedra quem nunca tomou um analgésico, sem se consultar com um médico, quando sentiu uma pequena dor de cabeça. Sempre tem alguém do lado, seja em casa ou no trabalho, com um comprimido a disposição. Basta um copo de água e pronto. Só que esses comprimidos em excesso podem provocar uma cefaléia difícil de ser tratada.

O excesso da automedicação, chegando ao ponto de ingerir o medicamento antes mesmo da dor de cabeça surgir, é um problema comum no consultório dos neurologistas. “É a cefaléia provocada por abuso de analgésico. Difícil de ser controlada”, conta o médico Marcelo Muniz.“Esse tipo de dor de cabeça funciona como uma dependência química. A pessoa nem sente dor de cabeça, toma o medicamento, em menos de quatro horas toma outro. É um círculo vicioso, de fato”, explica o neurologista.

Segundo ele, para tratar uma dor de cabeça é recomendável, primeiro, ir ao médico, para depois da situação ser avaliada, recomendar analgésicos com propriedades antiinflamatórias, ou, em casos mais extremos, pequenas quantidades de antidepressivos e anticonvulsivos.